Em situações de crise como aquela que estamos a viver com a COVID-19, as precauções a ter com a comunicação devem ser reforçadas. No contexto da nutrição, a circulação de informação incorreta e imprecisa não é uma situação específica dos períodos de crise. É algo que tem acompanhado a evolução das ciências da nutrição. Mas a comunicação de má qualidade numa situação de crise poderá ter consequências bem mais sérias. Por esta razão, a comunicação do risco é um dos pilares essenciais na gestão de uma emergência de saúde pública.
Neste pequeno texto, fazemos 5 recomendações para uma comunicação na área da nutrição com qualidade e para a minimização dos riscos:
1.Fazer recomendações baseadas em evidência científica e em linha com as orientações das autoridades de saúde e da área da alimentação internacionais e nacionais (DGS, ASAE, OMS, EFSA…).
2. Não sobrevalorizar o papel de um determinado alimento, nutriente ou suplemento alimentar na prevenção da COVID-19, pois a evidência científica é escassa no que diz respeito à relação entre um alimento específico ou suplemento no reforço do nosso sistema imunitário. Tanto quanto sabemos ainda não é conhecido um alimento ou suplemento alimentar que possa prevenir ou ajudar no tratamento da COVID-19. Prova da não existência de evidência para esta relação, é o facto de a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), até ao momento, não ter identificado ou autorizado qualquer alegação de saúde a um alimento ou componente que seja considerado adequado para a redução dos fatores de risco de infeções. Contudo uma alimentação equilibrada e saudável, seguindo as orientações da Roda dos Alimentos é fundamental para a assegurado o adequado funcionamento do sistema imunitário, pelo que deve ser reforçada a importância de uma alimentação saudável.
3. Manter uma comunicação equilibrada sobre a possível transmissão do novo coronavírus através dos alimentos. À luz da evidência atual não existe, até ao momento, evidência de qualquer tipo de contaminação através do consumo de alimentos cozinhados ou crus. As boas práticas de higiene e segurança alimentar devem ser reforçadas, dadas as circunstâncias deste período de crise. Contudo, a evidência atual não justifica uma hipervalorização deste possível risco. Desta forma, as recomendações a este nível devem estar alinhadas com as orientações da ASAE, EFSA e OMS. É necessário comunicar as incertezas de algumas recomendações, uma vez que este é um vírus ainda muito pouco conhecido, mas ao mesmo tempo é necessário assegurar a confiança e tranquilidade da população nos comportamentos de menor risco.
4. A comunicação no contexto da COVID-19 deve sempre reforçar as medidas que sabemos que serão efetivas para a prevenção da propagação da doença COVID-19, nomeadamente as boas práticas de higiene, as medidas de etiqueta respiratória e as medidas de isolamento social.
5. A comunicação no contexto da COVID-19 implica ser ativo na atualização do conhecimento científico. Esta doença nova, muito pouco conhecida, colocou toda a comunidade científica ao serviço da investigação da COVID-19, e surgem todos os dias novas publicações. Neste contexto, é imperativo manter uma rotina na procura e leitura da evidência científica atual, sobretudo no que respeita à relação entre a alimentação e COVID-19. Deve ser feita uma leitura e reflexão critica, não emocional, avaliando a qualidade da evidência e a robustez dos estudos. Só depois, e se se justificar, deve ser promovida a translação do conhecimento científico para o público em geral.
Estas orientações são úteis para todos. Todos aqueles que comunicam na área da nutrição e da alimentação. Profissionais de saúde, sociedade civil, comunicação social e demais parceiros. Sejamos todos agentes de saúde pública, também através daquilo que comunicamos.