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O Acordo de Paris à nossa mesa

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O Acordo de Paris à nossa mesa

Hoje celebra-se o Dia Mundial do Ambiente. Todos nós podemos fazer a diferença no nosso dia-a-dia. Conheça as dez medidas que podemos introduzir na nossa rotina que combinam a proteção da natureza e da nossa saúde.

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Com o “Acordo de Paris” assinado a 4 de novembro de 2016, a comunidade internacional procura travar o aumento da temperatura média global e resolver os desafios ligados às alterações climáticas.

O objetivo é limitar o aumento da temperatura média a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduzirá significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas e pedindo que cada país signatário adote medidas nesse sentido.

Hoje sabemos que as escolhas alimentares de cada família, multiplicadas por milhares de milhões de famílias, são talvez, uma das mais importantes ferramentas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e tornar o nosso planeta mais saudável. Portugal é particularmente sensível a estes efeitos devido à nossa grande extensão de costa e ao facto de muitas das nossas principais cidades estarem perto do mar, para além do efeito que a falta de chuva e o calor intenso poderão vir a na nossa agricultura e nas nossas vidas. Ainda por cima e no nosso caso, se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que Portugal, seriam necessários 2,3 planetas.

Podemos fazer a diferença no nosso dia-a-dia? Sim!

Sugerimos dez medidas, sustentadas cientificamente, que podemos introduzir nas nossas rotinas diárias. São medidas que combinam a proteção da natureza e também da nossa saúde. Quantos mais pessoas as adotarem maior será o efeito.

1.

Combine com a família um dia por semana sem carne e peixe. Um dia da semana onde se come apenas vegetariano. Nesse dia, treine uma ementa saborosa, variada e apelativa. Vegetariano pode e deve ser sinónimo de alimentação saborosa e nutricionalmente equilibrada. Estima-se que se uma família de 4 pessoas substituir uma vez por semana refeições com carne de vaca por um dia com refeições vegetarianas, ao fim de um ano será o equivalente (em emissões) a ter deixado o carro parado durante 3 meses (1). Em todo o caso, do ponto de vista nutricional, o PNPAS recomenda o consumo regular de pequenas porções de peixe, carne ou ovos como parte de uma alimentação equilibrada. Para conhecer melhor os fundamentos de uma alimentação equilibrada leia a Roda dos Alimentos ou os nossos manuais sobre alimentação vegetariana.

2.

Compre local. Sempre que possível tente comprar uma vez por semana a produtores locais ou procure no seu mercado a indicação de produto nacional. O transporte de alimentos é um dos grandes indutores da produção de gases com efeitos de estufa e do aquecimento global. Ainda por cima, em Portugal, a maior parte do transporte de alimentos faz-se por via rodoviária e com grandes consumos de combustíveis fósseis. Se os alimentos viajarem refrigerados, por exemplo em camiões frigoríficos o gasto de energia aumenta consideravelmente.

3.

Beba água da rede pública. A água da nossa rede pública é de excelente qualidade e tem um impacto reduzido no ambiente quando comparado com a água embalada e que necessita de ser transportada por muitas centenas de quilómetros. Como bebemos centenas de litros de água por ano, o impacto no ambiente pode ser enorme. Veja a nossa campanha a favor da água da rede pública em https://nutrimento.pt/noticias/iniciativa-agua-publica/ (2).

4.

Sempre que possível reduza a embalagem. Se vai às compras traga o seu saco de casa. Evite comprar produtos frescos embalados em plástico. Compre embalagens maiores, quando possível. Recicle o plástico. Estima-se que possam existir nos oceanos mais de 268 940 toneladas de plástico que poderão acabar por entrar na nossa cadeia alimentar na forma de micropartículas (3). O plástico e seus resíduos pode ainda ter um efeito importante na nossa saúde pela presença de disruptores endócrinos. De facto, a migração do plástico e seus aditivos de uma forma continuada para os alimentos pode originar doenças várias, quer quando a exposição acontece em fases precoces da vida, tais como na vida in útero, ou mesmo primeira infância, quer como fruto duma exposição crónica ao longo da vida. Estas consequências vão desde efeitos metabólicos relacionando com a obesidade até a doenças do foro mental (4).

5.

 Compre sazonal. Os alimentos da época, para além de serem opções mais interessantes do ponto de vista nutricional, são também mais saborosos e mais amigos do ambiente. Ao consumirmos alimentos da época estamos a favorecer a sazonalidade na produção agrícola e por isso a utilização de métodos de produção agrícola menos agressivos para o ambiente.

6.

Compre o que precisa. Planeie as compras tendo em conta os alimentos que ainda tem disponíveis em casa. Um adequado planeamento das compras alimentares é uma excelente estratégia para comprar apenas aquilo que realmente necessita para as suas refeições. O não planeamento leva-nos muitas vezes a comprar mais do que o necessário, podendo assim contribuir para um maior desperdício alimentar.

7.

Reduza o desperdício alimentar. Atualmente desperdiçam-se quantidades muito significativas de alimentos. Um terço dos alimentos produzidos em todo o mundo são deitados fora (5). Aprenda a utilizar as sobras das refeições para novos pratos com os devidos cuidados. Para saber mais, veja aqui. www.alimentaçãointeligente.dgs.pt .

8.

Substitua o forno por uma refeição fria por semana. A utilização de energia associada à utilização de diversos equipamentos durante a confeção dos alimentos é mais um dos fatores que contribui para o impacto do consumo alimentar no ambiente. Do ponto de vista energético, existem equipamentos mais eficientes do que outros, sendo o forno um dos equipamentos com consumos de energia mais elevados. Assim, privilegie pratos e receitas que recorram a outros equipamentos como o fogão ou o micro-ondas ou opte mesmo pelo consumo de algumas refeições frias, como por exemplo as saladas.

9.

Evite alimentos com baixa densidade nutricional. Os alimentos com elevada densidade energética e baixa densidade nutricional, ou seja, alimentos ricos em calorias, mas pobres em vitaminas e minerais, por ex., são alimentos cujo consumo não é recomendado pois são quase sempre um desperdício de embalagem, de energia e de água e um grande contributo para a obesidade e desnutrição. Neste aspeto, refrigerantes, guloseimas e produtos com grandes quantidades de gordura conseguem ser inimigos do ambiente e da saúde (6).

10.

Modere na alimentação. Atualmente consumimos, em média, quantidades de alimentos superiores às nossas necessidades energéticas e nutricionais. A redução do consumo de alimentos e energia para quantidades dentro dos valores recomendados pode por si só ser uma excelente medida para proteger o ambiente e lutar contra o excesso de peso.

 

 

 

Bibliografia

  1. Environmental Working Group. Meat Eaters Guide: Methodology 2011. 2011. [citado em: 04/06/2017]. Disponível em:http://static.ewg.org/reports/2011/meateaters/pdf/methodology_ewg_meat_eaters_guide_to_health_and_climate_2011.pdf?_ga=2.198351532.20134287.1496586475-1252989678.1496586474.
  2. Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável. Iniciativa # Água Pública 2017. [citado em: 04/06/2017]. Disponível em:https://nutrimento.pt/noticias/iniciativa-agua-publica/.
  3. Eriksen M, Lebreton LCM, Carson HS, Thiel M, Moore CJ, Borerro JC, et al. Plastic Pollution in the World’s Oceans: More than 5 Trillion Plastic Pieces Weighing over 250,000 Tons Afloat at Sea. PLoS One. 2014; 9(23)
  4. Teixeira D, Pestana D, Calhau C, Graça P. Linhas de Orientação sobre Contaminantes de Alimentos. Lisboa: Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável;  2015. Disponível em:http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1444899638LinhasdeOrientaçãosobreContaminantesdeAlimentos.pdf.
  5. Gustavsson J, Cederberg C, Sonesson U, Otterdijk Rv, Meybeck A. Global Food Losses and Food Waste: extent, causes and prevention. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations;  2011. Disponível em:http://www.fao.org/docrep/014/mb060e/mb060e00.pdf
  6. Baroni L, Cenci L, Tettamanti M, Berati M. Evaluating the environmental impact of various dietary patterns combined with different food production systems. Eur J Clin Nutr. 2007; 61:279-86.
 Imagem retirada de James Knight